segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Exemplo: o melhor – e o pior – legado de um líder

Como comentado no post anterior, o legado de um líder é essencialmente o corpo formado por suas decisões e os respectivos resultados. Decisões podem ser certas ou erradas. Como tudo o que o ser humano faz, pode resultar em coisas boas ou não. Muitos fatores concorrem para isto, até a sorte ou destino, se é que isto existe.

“Só não erra quem não decide”, já se diz popularmente. E talvez até mesmo quem decide não decidir já pode estar errando. Ou seja, isto parece ser uma verdade definitiva da qual não se pode escapar.

Pois bem, então tanto faz? Não. Se há um objetivo claro e um bom propósito, pode-se (e, de certa forma, deve-se em prol do aprendizado) cometer erros tentando acertar. Pode-se escolher alguns caminhos menos adequados, mais longos ou arriscados, mas o destino é bom. A situação final é melhor que a atual. Vale a pena ir do ‘ponto A’ ao ‘ponto B’. Agrega valor. Desenvolve. Gera oportunidades. Cria riqueza. Melhora, inova. Expande. Humaniza.

E o legado de um líder pode ser visto de várias perspectivas. Os resultados financeiros e econômicos. A participação de mercado. O portfólio de produtos. O respeito ao meio-ambiente e à sociedade. A valorização das ações e o lucro dos acionistas. A melhoria de processos. A conquista de novos clientes, mercados, tecnologias. A quantidade de patentes. E por aí afora.

Mas há um componente da herança do líder que, embora melhor observado no longo prazo e muitas vezes só levado seriamente em consideração no fim da carreira, é o que talvez mais diga a respeito de quem o líder é ou foi. E este componente é talvez aquele que mais se perpetua, principalmente por aquilo que fica gravado na memória e nos registros das pessoas e das organizações: o exemplo.

O exemplo pode ser definido como aquela linha que interliga as decisões e ações de um líder e mostra o resultado da somatória delas. Positivo ou negativo. É a imagem do legado do líder. É aquele espelho no qual ele se olha e conclui: agreguei ou desagreguei. Criei valor ou destruí valor(es). Desenvolvi pessoas ou frustrei pessoas. Fui correto e generoso ou fui 'esperto' e egoísta.

Ele é poderoso justamente por ficar gravado nestes registros, formais ou emocionais. E vai ficar lá, seja bom, seja ruim. Seja lembrado com alegria e repetido, seja lembrado com desprezo e repudiado. Portanto, é bom tomar cuidado com o exemplo que se produz no dia-a-dia e que vai se deixar para o futuro. Ele pode refletir uma imagem inspiradora, de orgulho e paz, ou pode mostrar um borrão, uma imagem sem foco e, quem sabe, perturbadora.

Há outro aspecto muito forte relacionado ao exemplo de um líder: ele pode influenciar e moldar pensamentos, valores e atitudes, reforçando o que é bom ou confundindo e instituindo o que é ruim.

Uma pessoa que exerce liderança, especialmente se esta liderança for natural, o poder desta sobre as demais é muito grande. É como uma fonte de capital disponível que pode ser bem ou mal investido.

Para fins de análise, imagine-se um gerente de médio escalão em uma grande empresa. Se este líder não cumpre os compromissos assumidos com sua equipe. Se, apesar dos alertas e feedbacks recebidos não honra sua responsabilidade perante o grupo. Se perambula pela organização, viajando de um lado para outro, gastando recursos da empresa apenas para se promover, saber das novidades, fazer o tal marketing pessoal, mas sem propósitos reais a ainda por cima age de maneira ‘esperta’ (na conotação negativa da palavra) e dá a entender que isto é bom. Se busca mais poder, status e benefícios e não retribui com dedicação. Se não faz seu papel de interface entre os níveis hierárquicos superior e inferior, mesmo quando isto lhe é explicitamente solicitado. Se muda de conceito sobre pessoas e fatos conforme a necessidade. Este é um líder que desperdiça seu capital. O líder cuja linha somatória do exemplo está do lado negativo do eixo dos valores.

E aí vem o risco de que pessoas influenciadas por estes comportamentos assimilem estas práticas como algo natural, normal e que, embora claramente em choque com os valores positivos e o bom senso, passem a desejá-las ou a praticá-las igualmente. Este é um lado perverso da destruição de valores (tanto morais quanto econômicos) que pode se perpetuar pelo mau exemplo.

Outro aspecto importante e digno de comentário que este tipo de líder provoca é a destruição ou, no mínimo, a decepção e o desencorajamento que pessoas com bons princípios e propósitos sob sua influência, direta ou indireta. Este tipo de situação tira a vontade de lutar pelo objetivo comum daqueles que não se alinham com este 'estilo' de liderança.

Ao dar-se conta do que se passa em volta, uma pessoa correta passa a sentir-se de certa forma traída e certamente sem estímulo para dar o ‘passo extra’ (go the extra mile) pela empresa ou grupo. Destrói-se a tal motivação, pela incompatibilidade de valores e falta de perspectivas. Pode-se chegar ao limite em que uma carreira promissora possa ser interrompida pela descrença e pela decepção geradas. Não é ficção, e não raro isto ocorre na vida real.

Já o bom líder é consistente, é confiável, tem bons propósitos. Pode até não ser o mais brilhante, o mais especialista na área, o mais inovador ou criativo. Mas é aquele que, através da linha contínua e positiva do seu exemplo, cumpre sua palavra, dedica-se ao seu grupo e objetivos, luta pelos interesses comuns e promove bons valores, suporta a criatividade e a inovação. É a liga, é o amálgama, é o catalisador, a cola e também a graxa que faz a engrenagem funcionar coesa em sem atritos.

E você, que legado vai deixar?

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