quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Lula escolhe seu candidato

No centro de um círculo formado por seus asseclas no 2º. andar do Palácio do Planalto, Lula escolhe o candidato à sucessão.

“Minha mãe mandou eu escolher este daqui...” o dedo aponta para Zé Dirceu. “Zé, você é um grande estrategista, mas deixou o esquema sair do controle e virar um BBB. Não soube acalmar o Roberto Jefferson - aquela Maria Louca, que botou a boca no trombone e deu no que deu. Falta de capacidade de costurar ‘alianças’. Não vai dar...”

Zé tenta argumentar. “Mas chefe, sempre fui seu homem de confiança, o ‘número 1’. Agora seria a minha vez. Além disso, o cara queria mais do que...”. “Não sou mais seu chefe - retruca Lula. Você queimou ‘os bigode’. Devia ter feito como eu fiz no caso do Sarney: defender o safado até o último, para garantir que o cabra não vai se rebelar e depois deixa se queimar sozinho. Mas não. Não soube ‘adoçar’ o malacabado e se danou. Continue com suas consultorias por aí, que você faz melhor.”

O olhar do frio presidente e já não mostra mais aquela afeição dos tempos da ditadura militar. Zé levanta, semblante resignado, mas que deixa transparecer uma certa altivez de quem diz “não preciso de vocês!”. Dá as costas e sai da sala sem se despedir dos demais.

“... mas como sou teimoso eu quero este daqui.” Continua o dono do jogo. Agora foi a vez de Palocci. “Humm” resmunga o presidente, com ar de mestre Yoda quando fala com tristeza da conversão do pupilo ao lado ‘negro da força’. “Cara bom, fez bom trabalho na economia, garantiu um bom início para o meu governo e a tranqüilidade geral da nação. Mas ficou caseiro demais, se é que me entende. E isto não é bom. Melhor seria ter dito que aquele negócio de casa de festas em Ribeirão era coisa da oposição... Queimou a fotografia filho. Não vai ser desta vez.”

“Mestre Lula!” Apela Palocci. “Este episódio já está resolvido, fui inocentado de todas as acusações... Ademais, o povo, além de pouco informado, esquece rápido as coisas. E este caso Francenildo é algo pequeno...”. “Cabeçudo! Pequeno é o que você tem entre as... melhor dizendo, em respeito à companheira Dilma aqui ao lado, pequeno é o que você dentro da cachola! Já não sou mais seu mestre. Não seguiu meus ensinamentos: devia ter fingido que nada sabia, que não era contigo, como faço todo santo dia. Mas não, foi lá, mandou espremer o coitado e jogou a ‘M’ no ventilador. Agora fica na tua, no teu mandato de deputado. Mas pra frente a gente vê se tem jeito...”

Lula, apesar do descontentamento, ainda lança um olhar paternal sobre Palocci. No fundo pensa: “ele é um bom menino”. Fez caca, mas é assim que se aprende. Precisa de mais um tempo. O ex-ministro levanta da cadeira, a barriga pesa um pouco, mas mantém a dignidade, coluna ereta aquiesce em respeito ao mestre, deseja boa sorte, acena aos demais e retira-se.

Em virtude das eliminações, o jogo é retomado.“Minha mãe mandou eu escolher este daqui...”. A bola da vez é Genoíno. “Bode velho, meu amigo. Você está aqui como candidato a candidato ou como conselheiro? Já ta na idade de ter ‘sitocômetro’.”
Diante deste tiro à queima-roupa, o senhor de cabelos e cavanhaque brancos como a neve demonstra ter sentido o impacto do disparo, levanta-se e diz: “Não me lembro porque vim até aqui. Também não me lembro porque endossei aqueles empréstimos no Branco Rural. Acho que vim dizer ‘adeus’.”

Ligeiramente comovido com o velho companheiro, Lula olha aquele senhor decrépito que já foi símbolo do partido, baixa a cabeça em agradecimento e retoma a tarefa. “... mas como sou teimoso...” Genoíno pensa enquanto sai do recinto: ‘bode velho é ...’

“eu quero este daqui...” Tarso Genro. “Báh, tchê! Brinca Lula. Que surpresa encontrar o índio velho por aqui. Achei que já estava de volta ao Rio Grande querido”. E dá uma gargalhada tão forte que acaba por deixar escapar uma flatulência curta, mas indisfarçável. Constrangimento na sala por alguns instantes.

Tarso quebra o silêncio e, contrariado pelo ‘chute para o mato que o jogo é de campeonato’ dado no seu traseiro pelo chefe, afirma com o peito insuflado pelo orgulho sulista: “Sim, quero ser candidato do partido! Posso até cair, mas caio lutando bravamente!” O canto da boca do presidente deixa escapar um risinho maroto, rapidamente controlado. ‘Que v...gem! De baixo desse bigode deve ter uma drag queen enlouquecida’, pensa ele.

“Companheiro”, brada Luís Inácio com voz firme e grossa. “Além de outras cacas menores, você me bota esta bomba do Batistti no colo! E eu tenho que decidir o que fazer com este pivete italiano. Você não me arruma soluções, mas problemas! Vai se abraçar com tua amiga Yeda Cruzes...”. “Não é ‘Cruzes’, mas ‘Crusius’” – corrige o gaúcho empertigado. “Não me interessa se é Cruzes ou Cururusius, para mim ela é da oposição, tá fazendo lambança lá no sul, portanto é uma ‘Cruiz-credo’. Isso sim! Pega tua trouxa e pica a mula para os pampas!”

Tarso ajeita os óculos, alisa o bigode, pigarreia e finaliza: “Presidente, apesar desta falta de compostura, estou à disposição para continuar a construção do nosso projeto!” Abraça Lula com carinho, tasca uma bejoca na sua bochecha esquerda e bate em retirada.

‘Compostura... nhé, nhé, nhé... que será que esta palavra quer dizer? Deve ser algo com galinha pondo ovos, sei lá...’

“Minha mãe...” Carlos Minc. “Minha mãe mesmo! O que você ta fazendo aqui cara? Não era para você tar (sic) vigiando os bois ilegais da Amazônia? E onde você comprou este colete ridículo? Já começou o carnaval?” Fez graça o chefe, mas irritado. “É que eu quero ter uma visão holística do que ocorre na fauna governamental…”. “Holística??? Fauna!? Olha quem fala! Pica a mula antes que eu te mande pro zoológico!” Minc, que já foi processado pela Associação das Baleias Mink pelo uso indevido do nome, dirige-se à porta falando consigo mesmo sem parar…

“mas como sou teimoso…” Celso Amorim. Antes que Lula o interpelasse, o embaixador de escola de samba do crioulo doido começou a se explicar, com voz baixa e trêmula. “É que eu acalento este sonho há muito tempo… Ser presidente é o meu desejo desde criancinha, para poder finalmente concretizar nosso projeto maior de inserir a grande nação brasileira na comunidade bolivariana e poder assim agradar ao Tio Chavez.” Marco Aurélio T. T. Garcia, que o assessorava, lhe dá uma cotovelada e sussura: “A gente não combinou que não ia falar do ‘Tio’?!! Como você é b…!”

O presidente, já de saco cheio, mas prevendo que a melhor saída é a diplomacia para não perder tempo e despachar logo a dupla dinâmica, resolve “Queridos, quero que vocês se concentrem na questão do Irã no momento. O companheiro Armadim ta enforcando uma galera lá e isto não pega bem para nós que fingimos diálogo com o cabra…”

“Sim senhor!” Falou baixinho o baixinho Amorim e saiu movimentando rapidamente suas perninhas ao lado de Garcia que gesticulava batendo a mão direita aberta sobre a esquerda fechada em um déjàvu familiar.

‘Minha paciência está acabando. Parece que estou cercado de trapalhões…’

“… mas como sou teim…” Franklin Martins. O homem da comunicação fanhosa do governo, já sentindo o clima pesado no ar, dispara “Lula, eu só vim informar que a audiência da TV Oficial subiu 0,0000001%. Com sua licença.” E some na poeira.

“Marta Suplicy, o que você está fazendo aqui? Companheira, aqui já é todo mundo casado e o Minc tem a pá meio virada. Não adianta. Não tem nada para você em Brasília. Vai cuidar de SP que o Kassab não ta dando conta das enchete (sic) e quem sabe você pode tirar uma casquinha aí...”.

“Mangabeira, você ta quietinho aí no seu canto. Deseja algo?” Antes de cair em contradição e revelar os seus planos estratégicos, o catedrático põe-se de pé e magistralmente inverte a situação: “Sr. Lula, eu é que lhe pergunto se deseja algo!?” O chefe dá aquele sorriso realmente inocente como quem olha para uma criança e diz “Pode ir meu filho”.

Ciro Gomes, já nervoso e roendo as unhas, solta sem pudor: “Viu, só sobrei eu!”. Neste momento só estavam na sala de reunião o presidente, a ministra e Ciro. “Tinha outros planos para você, Ciro.” Falou Dilma. “O que? Quem é você para ter planos para mim?”. “O Governo de SP, meu querido, esta era sua missão!”. A frase de Dilma atingiu o rosto de Ciro como um tabeff.

Lula, agora com uma cigarrilha acesa no canto da sala, dá ordem para Dilma parar a tortura. “Agora você está entendendo tudo, meu caro. A companheira aqui é que vai mandar no pedaço. Só falta combinar com o povo brasileiro em outubro...”. Baforada sabor cubano.

Ciro perde o rumo e sai da sala xingando tudo e todos. Promete rebelar-se contra esta “ditadura” instalada no Planalto.

“É Dilma, um por um eles se foram. Quem diria, todos fuzilados por seus próprios erros... Às vezes me sinto como um espelho em que as pessoas vêem os seus pontos fracos...”. Neste momento Dilma aproveita para ajeitar o cabelo: “É, ainda bem que sou humilde!”

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